quarta-feira, 5 de agosto de 2009

À Guisa de Manifesto

"São hoje 14 de maio de 1866. Vivo na cidade de Porto Alegre, capital da Província de S. Pedro do Sul; e para muitos, - Império do Brasil... Já se vê pois que é isto uma verdadeira comédia! (Atirando com a pena, grita:) Leve o diabo esta vida de escritor! É melhor ser comediante! Estou só a escrever, a escrever; e sem nada ler; sem nada ver (muito zangado). Podendo estar em casa de alguma bela gozando, estou aqui me incomodando!"

José Joaquim de Campos Leão (Triunfo RS 1829 - Porto Alegre RS 1883). Autor. Qorpo-Santo escreve sua obra teatral no século XIX, mas suas peças só são encenadas a partir da década de 1960. Antes de produzir sua obra literária, Qorpo-Santo trabalha como comerciante e professor. Também exerce as atividades de vereador e delegado de polícia na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul. Começa a escrever para jornais desse Estado no ano de 1852. Por volta de 1864, o dramaturgo começa a sofrer de alucinações, o que o leva a ser internado e examinado por médicos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. É desse período conturbado a maior parte de seus trabalhos. Dezesseis peças são escritas entre janeiro e maio de 1866.

Em 1877, Qorpo-Santo decide criar a própria tipografia. É nela que edita sua Ensiqlopédia ou Seis Mezes de Huma Enfermidade, obra em nove volumes, dos quais, até o momento, são conhecidos seis, que reúnem poemas, confissões, receitas culinárias, máximas e suas dezessete peças teatrais.

A grafia ensiqlopédia surge de uma reforma ortográfica proposta pelo autor e defendida em artigo no jornal A Justiça em 23 de outubro de 1868. Dessa reforma é que também surge a grafia para o seu nome literário: Qorpo-Santo. Importante lembrar que o escritor, em seus textos, algumas vezes segue seu projeto ortográfico e em outras a ortografia da época.

Esta será minha Ensiqlopédia. aqui resenharei tudo que me aprouver e me interessar, desta província ou de outras, deste mundo ou de outros. Não serão escritos de um autor "febrilmente tateando as aranhas, aranhas nos cantos do quarto". Só comentários, compilações, glosas, arquivos e caminhos para as coisas que a meu gosto agradem ou desagradem. Músicas, filmes, lugares, receitas, notícias, comidas, livros, artigos, espetáculos. As opiniões aqui tipografadas nunca serão definitivas ou conclusivas, porque "hoje sou um, amanhã outro". Sempre que "minha imaginação me convidar para jantar" e minha memória se tornar pequena para todos os "vermes da escrita" que conceber, despejarei aqui. Dito, lavrado, assinado. Beco do Rosário, sobrado de 3 janelas nº21, Porto Alegre.

"(Milhares de luzes descem e ocupam o espaço do cenário)"

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